18 de fev. de 2011

UM DIÁLOGO NECESSÁRIO - SAÚDE E EDUCAÇÃO

UM DIÁLOGO NECESSÁRIO – saúde e educação

Assisti ontem uma palestra do meu amigo e colega André Trindade falando da importância do trabalho que vem desenvolvendo com corpo, gesto e movimento junto a crianças e adolescentes e seus professores. Ele colocou uma pergunta sobre a qual fiquei refletindo: “Quem olha para o corpo destas crianças?” E, ele mesmo respondeu: ninguém. Os dados estatísticos mostram os inúmeros problemas de dores por questões de postura errada de que tantas crianças e adultos são vítimas hoje em dia. E, sugere André, é necessário desenvolver programas preventivos. É neste ponto que faço minhas observações: parece-me tratar-se de um problema muito grave. Porque ninguém olha para o corpo das crianças? Porque não há uma cultura nem uma consciência com relação a postura, linguagem e movimentos corporais. Não estamos falando de esportes nem de corpos malhados. Estamos falando de prevenção a partir de informação e consciência. Parece-me que se trata de um problema de saúde pública. Não se trabalha com prevenção porque falta informação a este respeito. E é aqui que o diálogo entre a área de saúde e a da educação torna-se urgente. Não somente a troca de informações mas o preparo dos cuidadores, para começar com seus próprios corpos, para poderem lidar com os das crianças.
A este respeito lembro do movimento existente na Europa em que muitas escolas já têm médicos que trabalham na escola, em parceria com os educadores, olhando para os corpos físicos das crianças, suas dores e doenças sem perder de vista questões emocionais ou problemas de aprendizagem, diretamente relacionados com suas doenças. O trabalho não é somente curativo mas, sobretudo preventivo.
Estamos muito longe destas parcerias. O que fazer de imediato para não termos ainda várias gerações de crianças – e a cada vez em maior quantidade – doentes, arrastrando dores e má postura nos seus cotidianos? Veicular informação a este respeito parece-me essencial e criar diálogos intersetoriais e interdisciplinares. Afinal estamos todos os profissionais – professores, pediatras, terapeutas infantis, fisioterapeutas, psicopedagogos e outros cuidadores da infância, falando e pensando nas mesmas crianças, porém, olhando para elas de forma fragmentada.
Cito aqui a experiência inovadora e inspiradora que a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal vem desenvolvendo junto a alguns municípios, no sentido de olhar para o desenvolvimento infantil de crianças de 0 a 3 anos, focalizando as propostas de intervenções junto às famílias, as comunidades, as áreas de saúde (ginecologia, neuro-pediatras, pediatras e técnicos, enfermeiros e atendentes de pronto atendimentos ou de centros de vacinação); áreas de educação, assistência social e outros atores diretamente envolvidos com as crianças.
Comunicação, consciência e informação são essenciais, mas não se trata de jogar a responsabilidade nos outros. Cada um pode ir atrás destas e fazer o que estiver ao seu alcance. As crianças crescem e os seus corpos e suas psiques não aguardam.

Sugestão de leitura – 'Corpo, gesto e movimento' de André Trindade

3 comentários:

  1. Criança e falta de movimento são duas ideias que parecem não combinar. Porém não é o que observamos no dia-a-dia... Muitas passam horas sentadas, enfileiradas, cumprindo seus deveres.
    A essência de ser criança é ignorada à custa de uma visão distorcida do que é aprender.

    ResponderExcluir
  2. Outro dia reparei que muitas crianças (4-5 anos)usavam apenas uma mão para tentar colocar o tênis. Precisei intervir para que tentassem usar as duas mãos. Então, fiz uma brincadeira rápida. Assim que chamava o seu nome, a criança deveria levantar as duas mãos. Para a minha surpresa, algumas perdiam o equilíbrio, porque o corpo pendia para um dos lados quando estavam sentadas! Os educadores tem uma longa jornada corporal pela frente!!!

    ResponderExcluir
  3. E sei que todos se perguntam: "o que fazer, então?". Para mim, uma das respostas é: BRINCAR! Proporcionar às crianças espaços para brincar, observar, agir e interagir!

    ResponderExcluir