14 de mar. de 2011

CRIANÇAS ORGANIZADAS - vamos escutá-las?

Voltei de uma viagem ao Perú onde fui convidada a conhecer alguns projetos ligados a Infância. País muito pobre, com muitas necessidades, onde, para minha enorme surpresa, grande parte das crianças da maior parte das comunidades pobres, trabalha. Há sim uma lei contra o trabalho infantil, mas é fato que a mão de obra destas crianças é fundamental para a sobrevivência da grande parte das famílias: nas cidades, no interior, na selva. Trabalham vendendo balas nos ônibus, nas ruas, levando e trazendo trabalhadores ou turistas nas suas canoas, vendendo seja lá o que for. Mas, todas estão na escola!
Quanto mais necessidades e carências tem um país, parece que a criatividade e a mobilização são maiores. E foi neste país que fiquei emocionada ao saber que existem grupos de crianças organizadas para falar, reivindicar, criar campanhas, movimentos, abaixo assinados junto aos políticos, falar dos seus direitos, das suas carências. Crianças que levantam a voz porque apanham dos pais. Crianças que pressionam os políticos para que o tema da Infância vire prioridade nacional. Crianças que mobilizam seus pais e cuidadores para embelezar e se apropriar dos espaços públicos abandonados. Estas crianças organizadas, reúnem-se anualmente com crianças de outros países  para debater sobre seus direitos, suas angústias, suas necessidades, suas reivindicações. Convidam políticos, formadores de opinião e outros adultos para dialogar com eles. Trocam experiências e pensam caminhos para orientar tantas outras crianças. Criam cursos à distância utilizando suas próprias linguagens lúdicas, musicais, com fantoches e expressões plásticas, para outros grupos de crianças e jovens. Alguns adultos ajudam, os pais apoiam, agências financiadoras investem. Porque estamos, sim, vivendo novos tempos, em que dar voz às crianças é um caminho sem volta. E agora que elas começam a conquistar estes espaços, nós adultos precisamos reagir. Não se trata somente de escutar mas de acolher estas vozes e aprender a dialogar e a trabalhar junto com elas na formação e no investimento de gerações de crianças e jovens mais saudáveis, dignos, respeitados e comprometidos. Estas crianças têm muito o que dizer.  É nossa vez de escutar e refletir.