27 de fev. de 2011

INSPIRAÇÕES - QUEM FAZ A DIFERENÇA

Inauguro um novo espaço INSPIRAÇÕES (logo embaixo do quadro NEPSID, o acesso direto aos sites)- onde estarei publicando referências de QUEM FAZ A DIFERENÇA, ações desenvolvidas por pessoas e grupos realmente significativas que nos inspiram para a mudança, que é possível e necessária. Penso que para sairmos dos círculos de crítica e passividade é importante conhecer as histórias de como estas pessoas começaram - a partir da sua sensibilidade, de histórias de vida pessoal, da sua indignação, das suas verdades ou das suas habilidades. Sobretudo da firme decisão de que é possível transformar e com muita simplicidade. Não se trata aqui de propaganda, mas de sugestões para que o trabalho destas iniciativas seja conhecido e, principalmente, inspire outras ações.
Se você conhece outras iniciativas, poste seu comentário. Precisamos desta grande rede!

18 de fev. de 2011

UM DIÁLOGO NECESSÁRIO - SAÚDE E EDUCAÇÃO

UM DIÁLOGO NECESSÁRIO – saúde e educação

Assisti ontem uma palestra do meu amigo e colega André Trindade falando da importância do trabalho que vem desenvolvendo com corpo, gesto e movimento junto a crianças e adolescentes e seus professores. Ele colocou uma pergunta sobre a qual fiquei refletindo: “Quem olha para o corpo destas crianças?” E, ele mesmo respondeu: ninguém. Os dados estatísticos mostram os inúmeros problemas de dores por questões de postura errada de que tantas crianças e adultos são vítimas hoje em dia. E, sugere André, é necessário desenvolver programas preventivos. É neste ponto que faço minhas observações: parece-me tratar-se de um problema muito grave. Porque ninguém olha para o corpo das crianças? Porque não há uma cultura nem uma consciência com relação a postura, linguagem e movimentos corporais. Não estamos falando de esportes nem de corpos malhados. Estamos falando de prevenção a partir de informação e consciência. Parece-me que se trata de um problema de saúde pública. Não se trabalha com prevenção porque falta informação a este respeito. E é aqui que o diálogo entre a área de saúde e a da educação torna-se urgente. Não somente a troca de informações mas o preparo dos cuidadores, para começar com seus próprios corpos, para poderem lidar com os das crianças.
A este respeito lembro do movimento existente na Europa em que muitas escolas já têm médicos que trabalham na escola, em parceria com os educadores, olhando para os corpos físicos das crianças, suas dores e doenças sem perder de vista questões emocionais ou problemas de aprendizagem, diretamente relacionados com suas doenças. O trabalho não é somente curativo mas, sobretudo preventivo.
Estamos muito longe destas parcerias. O que fazer de imediato para não termos ainda várias gerações de crianças – e a cada vez em maior quantidade – doentes, arrastrando dores e má postura nos seus cotidianos? Veicular informação a este respeito parece-me essencial e criar diálogos intersetoriais e interdisciplinares. Afinal estamos todos os profissionais – professores, pediatras, terapeutas infantis, fisioterapeutas, psicopedagogos e outros cuidadores da infância, falando e pensando nas mesmas crianças, porém, olhando para elas de forma fragmentada.
Cito aqui a experiência inovadora e inspiradora que a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal vem desenvolvendo junto a alguns municípios, no sentido de olhar para o desenvolvimento infantil de crianças de 0 a 3 anos, focalizando as propostas de intervenções junto às famílias, as comunidades, as áreas de saúde (ginecologia, neuro-pediatras, pediatras e técnicos, enfermeiros e atendentes de pronto atendimentos ou de centros de vacinação); áreas de educação, assistência social e outros atores diretamente envolvidos com as crianças.
Comunicação, consciência e informação são essenciais, mas não se trata de jogar a responsabilidade nos outros. Cada um pode ir atrás destas e fazer o que estiver ao seu alcance. As crianças crescem e os seus corpos e suas psiques não aguardam.

Sugestão de leitura – 'Corpo, gesto e movimento' de André Trindade

10 de fev. de 2011

A invenção da Infância (Segunda parte)

RECREIO - tempo livre ou dirigido?

O TEMPO DO RECREIO NAS ESCOLAS

                ‘Recreio’ vem de recrear: renovar, reanimar, distrair, alegrar. O que está acontecendo nos recreios das escolas? Um tempo que deveria ser livre, um dos poucos momentos de autonomia que as crianças têm neste carrossel de obrigações, atividades e tarefas que a sociedade lhes impõe.
Uma pesquisa realizada em 2002 pela Escola de Medicina Albert Einstein nos Estados Unidos – onde o tempo do recreio está ficando a cada ano mais curto – junto a aproximadamente onze mil alunos da 3ª. série mostrou a importância do recreio para as crianças socializarem, brincarem e liberarem energia e, assim, terem melhor desempenho escolar. Porém, um movimento contrário está acontecendo nos Estados Unidos: os castigos por mau comportamento proíbem a saída para o recreio e as crianças acabam ficando presas e, portanto, mais agressivas e revoltadas.
O que acontece hoje em muitas das nossas escolas? Ao mesmo tempo em que a consciência da importância do tempo do brincar cresce, dependendo da forma como ele for proposto, pode ser também contraproducente. Explico: está havendo um movimento de escolas que, argumentando que as crianças de hoje não sabem brincar, estão propondo atividades dirigidas no tempo do recreio. Não será que dessa forma, mais uma vez, tolhemos a autonomia e deixamos as crianças sem voz, sem liberdade para ‘respirar’, para fazerem o que tiverem vontade? Não é porque as crianças na hora do recreio não estão brincando daquilo que nós adultos achamos que seja ‘adequado’, que elas não estejam tendo seu tempo lúdico. Ou seja, brincar na biblioteca, conversar ou contar piadas para os amigos, fofocar, olhar outras crianças, bater figurinhas, descansar, inventar jogos, correr, ficar à toa e até ler jornal – como ontem um menino de 12 anos me contou –; qualquer atividade em que as crianças possam ser crianças do jeito que queiram, vale!
O que está faltando é ficarmos menos diretivos, menos controladores e mais abertos para ouvir o que as crianças estão conversando, querendo, do que estão reclamando, que brincadeiras estão inventando. Está na hora de ficarmos mais atentos e abertos para suas inquietações, seus interesses e conhecer que novos mundos elas estão criando.
As crianças estão brincando quando têm autonomia. Deem uma espiada no Mapa do Brincar http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/mapadobrincar/ para conhecer como elas estão brincando por aí!

4 de fev. de 2011

A invenção da Infância (Primeira parte)

CENAS DA VIDA PÓS MODERNA

Venho trabalhando com pesquisas com crianças, ouvindo-as direta e indiretamente. Ando atenta às suas falas, desenhos, brincadeiras e mensagens. Crianças espertas, introvertidas, agitadas, tristes, gordinhas, curvadas, falantes, hipnotizadas nas suas telinhas e telonas. Na cidade, nas zonas rurais, no interior. No Brasil, na Argentina, na França, Itália ou Estados Unidos. 
Venho observando famílias em volta de mesas dos restaurantes, nas ruas, nos clubes ou shopping centers - as crianças cada uma com seu Videogame, Nintendo ou Ipad, o pai com seu Iphone, a mãe com seu Blackberry. Juntos e separados, cada um no seu mundo, viajando longe daquele espaço de encontro real: mais do que reunidos, separados. 
Crianças falando com mães e pais muito ocupados, sempre em outro lugar que não aquele. Ninguém presente no corpo a corpo. Todos presentes virtualmente conectados com alguém ou algo que está bem longe daqueles que estão fisicamente juntos. 
Quem não está em alguma rede virtual - Facebook, Orkut, etc. fica por fora. Redes que propiciam reencontros ao redor do mundo, emoções de rever? conversar, retomar vínculos antigos. Possibilidade de conhecer? e estabelecer novos vínculos. Inteirar-se, divulgar, encontrar sua tribo.
Hoje carregamos nossa vida e nosso trabalho em um aparelinho/brinquedinho que liga, escreve, fotografa, filma, grava, vira TV, nos lembra dos nossos compromissos, agendas; nos orienta e ao mesmo tempo nos desorienta; nos acorda, nos tira o sono, nos hipnotiza e controla nossas vidas.
Dirigimos e estamos conectados; comemos e estamos conectados; participamos de uma reunião em volta de uma mesa ou de uma aula, ou de uma palestra, e estamos conectados e desconcentrados;dormimos e estamos alertas - será que chegou mensagem? Porque ele não responde?
Na praia, no mar ou na montanha, seguimos conectados. Com quem? Com o que?
Se não é o Wii, é o Videogame, o Play Station 1, 2, 3, o XBox, Tv e jogos virtuais. Todos ocupam as vidas de tantas crianças - pequenas e grandes (sobretudo). Novos brinquedos, novas descobertas.
Venho me perguntando, me inquietando - que vínculos são esses que vêm se construindo? Ou desconstruindo? Todas as relações estão cada vez mais sendo mediadas por aparelhos, objetos e brinquedos que - ao mesmo tempo em que abrem possibilidades maravilhosas de comunicação e acesso a mundos e informações que há poucos anos seriam inimagináveis - separam, protegem(?), escondem ou expõem demais nossas vidas. Encontros reais, abraços, telefonemas, olho no olho, estão virando cada vez mais raros. 
Estamos atrapados sem saída? Observo crianças e adultos hipnotizadas, dependentes, ansiosos, hiperativos, distraídos. Estamos mais sós ou mais acompanhados? A qualquer hora e em qualquer lugar!
E por outro lado a possibilidade democrática do acesso a um magnífico universo de informações; a liberdade de expressão pessoal; a ampliação das redes de contatos; a possibilidade de engajamento em inúmeras causas e campanhas. Labirintos, descobertas, enfim, a COMUNICAÇÃO em pauta.
Novos 'brinquedos e brincadeiras', novas possibilidades?
Antigos anseios de sermos reconhecidos?
Onde vão parar nossas emoções e nossa profundidade?
Como estão se transformando as formas de nos relacionarmos?
Fico observando....
Fico me perguntando...
Que histórias nossos filhos vão contar sobre suas infâncias?

1 de fev. de 2011

Entrevista - ''Crianças brincam menos e ficam dependentes dos adultos e da tecnologia''

Para antropóloga, falta de tempo dos pais para o lazer e apelos de consumo levam ao abandono do tempo livre e das brincadeiras criativas

16 de janeiro de 2011 | 0h 00

- O Estado de S.Paulo
Rodeadas de tecnologia e pais sem tempo para lazer, uma geração de crianças hoje cresce sem saber brincar, perdendo parte importante de sua formação. A opinião é da educadora e antropóloga Adriana Friedmann, uma das fundadoras da Aliança pela Infância, movimento que pretende levantar a discussão sobre a importância do brincar no cotidiano infantil. Para ela, apenas com o aumento das pesquisas científicas que mostrem efetivamente o efeito das brincadeiras no desenvolvimento das crianças será possível conscientizar uma parcela maior da sociedade.
O que você acha das iniciativas para resgatar as brincadeiras na infância?
Hoje há um grande movimento do brincar, que começou nos anos 1980 com pesquisas, publicações e implementação de brinquedotecas. O brincar foi parar nas leis e inúmeros educadores, pesquisadores, organizações e campanhas vêm adquirindo grande forca no resgate do brincar na vida das crianças. Porém, o desafio é grande pois agimos contra a corrente tecnológica e de incentivo ao consumo que toma o cotidiano das crianças. É por esse motivo que pesquisas têm sido tão importantes para mostrar o quanto o brincar é fundamental no desenvolvimento das crianças.
Por que a necessidade de criar um movimento para resgatar as brincadeira? As crianças hoje brincam menos?
As crianças hoje brincam cada vez menos, pois ficaram dependentes dos brinquedos e produtos tecnológicos que o mercado oferece e que os pais têm comprado, motivados mais pelo marketing que pela consciência de que esses produtos são adequados. Raramente vemos hoje pais e mães brincando com seus filhos. A vida corrida, falta de tempo de lazer e a invasão de smartphones, videogames e computadores estão transformando drasticamente os vínculos familiares e o tempo de lazer. Nas escolas, o tempo do recreio, o tempo livre sem atividades, está ficando cada vez menor ou mais direcionado. As crianças estão dependentes do direcionamento dos adultos e muitos afirmam que elas não sabem mais brincar.
Quais as consequências disso?
Há um perigo latente na geração que cresce sem ter brincado, pintado, dançado, criado. São crianças que estão pulando fases essenciais no seu desenvolvimento, fases que acabam sendo vivenciadas tardiamente na adolescência e na idade adulta. Os papéis dentro da família têm se invertido e muitas vezes crianças se tornam adultos precoces e os adultos continuam sendo crianças na meia idade, tanto do ponto de vista emocional, quanto no que se refere à adequação de interesses. Há uma grande crise de valores que já tem quase duas décadas e é urgente reencontrarmos possibilidades de reequilibrar essa situação na sociedade, tanto no que diz respeito às propostas voltadas para as crianças, quanto na orientação de educadores, cuidadores e pais, desde os bebês até o trabalho que deve ser realizado com adolescentes e adultos.

Qual o papel da Aliança pela Infância? Que tipo de ações desenvolve?
A Aliança pela Infância, integrada pelo movimento do brincar e por inúmeros indivíduos preocupados com a qualidade de vida das crianças, desenvolve e incentiva campanhas e projetos. A Aliança promove eventos, fóruns de discussão, incentiva ações em parceria com organizações e redes no sentido de resgatar a essência das crianças e o incentivo de infâncias saudáveis.