4 de fev. de 2011

CENAS DA VIDA PÓS MODERNA

Venho trabalhando com pesquisas com crianças, ouvindo-as direta e indiretamente. Ando atenta às suas falas, desenhos, brincadeiras e mensagens. Crianças espertas, introvertidas, agitadas, tristes, gordinhas, curvadas, falantes, hipnotizadas nas suas telinhas e telonas. Na cidade, nas zonas rurais, no interior. No Brasil, na Argentina, na França, Itália ou Estados Unidos. 
Venho observando famílias em volta de mesas dos restaurantes, nas ruas, nos clubes ou shopping centers - as crianças cada uma com seu Videogame, Nintendo ou Ipad, o pai com seu Iphone, a mãe com seu Blackberry. Juntos e separados, cada um no seu mundo, viajando longe daquele espaço de encontro real: mais do que reunidos, separados. 
Crianças falando com mães e pais muito ocupados, sempre em outro lugar que não aquele. Ninguém presente no corpo a corpo. Todos presentes virtualmente conectados com alguém ou algo que está bem longe daqueles que estão fisicamente juntos. 
Quem não está em alguma rede virtual - Facebook, Orkut, etc. fica por fora. Redes que propiciam reencontros ao redor do mundo, emoções de rever? conversar, retomar vínculos antigos. Possibilidade de conhecer? e estabelecer novos vínculos. Inteirar-se, divulgar, encontrar sua tribo.
Hoje carregamos nossa vida e nosso trabalho em um aparelinho/brinquedinho que liga, escreve, fotografa, filma, grava, vira TV, nos lembra dos nossos compromissos, agendas; nos orienta e ao mesmo tempo nos desorienta; nos acorda, nos tira o sono, nos hipnotiza e controla nossas vidas.
Dirigimos e estamos conectados; comemos e estamos conectados; participamos de uma reunião em volta de uma mesa ou de uma aula, ou de uma palestra, e estamos conectados e desconcentrados;dormimos e estamos alertas - será que chegou mensagem? Porque ele não responde?
Na praia, no mar ou na montanha, seguimos conectados. Com quem? Com o que?
Se não é o Wii, é o Videogame, o Play Station 1, 2, 3, o XBox, Tv e jogos virtuais. Todos ocupam as vidas de tantas crianças - pequenas e grandes (sobretudo). Novos brinquedos, novas descobertas.
Venho me perguntando, me inquietando - que vínculos são esses que vêm se construindo? Ou desconstruindo? Todas as relações estão cada vez mais sendo mediadas por aparelhos, objetos e brinquedos que - ao mesmo tempo em que abrem possibilidades maravilhosas de comunicação e acesso a mundos e informações que há poucos anos seriam inimagináveis - separam, protegem(?), escondem ou expõem demais nossas vidas. Encontros reais, abraços, telefonemas, olho no olho, estão virando cada vez mais raros. 
Estamos atrapados sem saída? Observo crianças e adultos hipnotizadas, dependentes, ansiosos, hiperativos, distraídos. Estamos mais sós ou mais acompanhados? A qualquer hora e em qualquer lugar!
E por outro lado a possibilidade democrática do acesso a um magnífico universo de informações; a liberdade de expressão pessoal; a ampliação das redes de contatos; a possibilidade de engajamento em inúmeras causas e campanhas. Labirintos, descobertas, enfim, a COMUNICAÇÃO em pauta.
Novos 'brinquedos e brincadeiras', novas possibilidades?
Antigos anseios de sermos reconhecidos?
Onde vão parar nossas emoções e nossa profundidade?
Como estão se transformando as formas de nos relacionarmos?
Fico observando....
Fico me perguntando...
Que histórias nossos filhos vão contar sobre suas infâncias?

2 comentários:

  1. muy pero muy interesante lo que haces, lo que escribis, y realmente , mas alla que no es mi campo, justamente vengo observando lo mismo , y comentandolo con la gente que tengo alrededor,
    Nadie se mira mas a los ojos, la gente esta y no esta y el dialogo esta b asicamente perdido.
    Gracias a Ds tenemos un balance perfecto con shabat, para nosotros, nuestra familia, nuestros amigos, la observancia del shabat nos permite desconectarnos del mundo virtual , tecnologico, del mundo del trabajo, para reencontrarnos en un espacio mucho mas intimo, donde sobran las miradas , y los minutos se llenan con charla , risas, experiencias y tradiciones vivas. Un mundo que esta mas alla de las diferencias de edades, paises, idiomas, un mundo que enaltece a la familia y a la alegria .
    gracias por darme este espacio para reflexionar, un beso gigante para vos Adriana y felicitaciones por tu trabajo!
    shabat shalom!
    sylvia ascher
    montevideo

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  2. Querida Adriana,
    tenho pensado muito também, principalmente depois de ingressar na escola pública, sobre nossa sociedade contemporânea globalizada e instantânea, onde não temos tempo, ou melhor, onde tempo é dinheiro, e cada vez menos convivemos com pessoas de “carne e osso” no tempo presente, devido aos meios tecnológicos de comunicação. Penso que, necessitamos refletir sobre a urgência de gerarmos vínculos mais sadios em uma sociedade que vem a cada dia adoecendo.

    Tenho lido e estudado muitas coisas, e a cada dia fico com mais dúvidas, porém alguns estudos tem me chamado a atenção, baseados em conceitos de uma sociedade que vive na "Era da Iconofagia", conceito do Prof. Norval Baitello. Estamos sendo devorados por imagens e informações por todos os lados. Nossas crianças aprendem desde cedo que o legal é ser o outro, é ter o que os outros tem, ou o que a propaganda esta dizendo que é legal ter, a cada dia perdesse a importância de ser você mesmo, buscamos um modelo, alguém a seguir...

    "O que você quer ser quando crescer?"
    Eu mesmo!

    Estou refletindo...

    Grande beijo

    Kátia Alves

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